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Curva da estrada

  • Foto do escritor: Denise Flores
    Denise Flores
  • 4 de jul. de 2019
  • 3 min de leitura

Ver uma pessoa que amamos partir não é fácil, em nossas cabeças e corações existe um ciclo natural da vida, que a própria vida não segue, porque cada um tem sua trajetória, seu tempo, sua história.

A morte é um acontecimento em camadas, que nos causa impactos das mais diversas maneiras. Perder minha vó foi uma dor, meu pai foi outra, e a cada amigo que se foi, e infelizmente, foram mais do que uma mão possa contar, a dor veio acompanhada do lembrete de que sou mortal (somos todos, né?).

Lembro de quando morreram dois amigos do meu pai. Primeiro, o Bené “Pedreiro”, eram amigos desde sempre, lembro do Bené e toda sua família frequentando a nossa casa, e também foi ele quem construiu a capela no sítio. Depois, ele perdeu o Geraldo “Malacacheta”, de quem lembro mais de histórias, do que do “personagem”, obviamente que meu pai sentiu muito estas e tantas outras perdas.

Quando morre um amigo dos nossos pais, a morte nos lembra que também podemos perder nossos pais. Sofremos a perda que eles sofreram, sofremos a dor deles, sofremos com a projeção do medo da perda.

Há alguns anos minha mãe perdeu a Arlete, sua primeira amiga, de adolescência, madrinha de casamento. Doeu muito, eu sei. Mas passada a dor, minha mãe segue com as lembranças e as diversas amizades conquistadas ao longo da vida.

Uma parte das amigas da minha mãe eu conheço desde criança, elas se conheceram porque os filhos estudaram na mesma escola. A portaria do colégio foi o palco escolhido pelo Universo para unir diversas almas numa bela amizade, um grupo que com o tempo, agregou outras grandes amigas.

Um grupo de mulheres meio atrapalhadas, engraçadas, mulheres de fé, incrivelmente unidas e afetuosas umas com as outras. Se elas se divertem juntas, também se apoiam na dor. Que foram muitas, choraram juntas a morte de maridos, mães, filhos, amigas.

Pois quis a vida, com seu ciclo que só ela entende, que este ano, duas das amigas precisassem partir. Há alguns meses foi a Walmira, minha mãe estava viajando e estive com suas amigas apenas na missa de sétimo dia, mais do que representar minha mãe, fui levar meu abraço para pessoas que adoro e fazem parte da minha vida.

Hoje, precisaram se despedir da Angela, que adoeceu e partiu mais rápido do que qualquer um poderia assimilar. 

É doloroso ver uma turma se despedir de um dos seus. Dói muito, eu sei. É estranho. É fora dos planos.  

Fica no ar, e nas rodas de conversa, a pergunta: como seguir em frente? E por mais inacreditável que parece, a resposta é simples, como sempre foi, apesar do imenso vazio que se abriu. 

Sigam unidas, rindo, fazendo “rezinhas”, encontros, indo ao cinema às sextas-feiras, indo à cafés, exposições, fazendo amigo oculto, sorteando o anjo, fazendo vaquinha para os “filhos que vão casar”, tomando cerveja, fazendo risoto e arroz de bacalhau. Sigam rindo. Muito. Sempre. Até perderem o fôlego. 

De onde estiverem, Walmira e Angela vão se iluminar com o sorriso de vocês. E sempre que lembrarem delas, façam isto com alegria, guardem na memória os bons momentos vividos. Bons momentos ao lado de quem amamos é, e sempre será, a maior riqueza que existe.

Ocupem-se da vida, pois como já dizia Fernando Pessoa “a morte é a curva da estrada”.

Denise Flores

04 JUL 2019

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