Segue o baile
- Denise Flores

- 3 de jul. de 2019
- 3 min de leitura
Em maio deste ano, quando completei trinta e sete anos, queria ter escrito e publicado este texto, mas logo depois ao meu aniversário tive um início de crise de depressão e acabei ficando mais recolhida, e consequentemente, deixando meus projetos meio de lado.
Tive a primeira crise de depressão aos dezesseis anos, geralmente elas vem em ondas, com altos e baixos. Desta vez, apesar de ter teimado comigo mesma por não querer admitir a mudança na maré, consegui reverter o quadro rapidamente. Com alma e coração mais calmos, voltei a navegar com segurança e tranquilidade.
Por um feliz acaso, este é o texto de número noventa. Se são noventa publicados no blog, existem tantos outros escritos ao longo da vida, pensar nisso aquece meu coração.
Depois dos trinta, sempre acho que estou na minha melhor idade, e isto é reconfortante. Obviamente tenho minhas saudades, mas não tenho vontade de voltar a nenhuma época, o que quero é seguir adiante, vivendo, amadurecendo e envelhecendo da melhor maneira que puder.
Passei muitos anos sofrendo com saudades do meu pai e de tantas pessoas queridas que se foram. Aprender a não sofrer de saudade, mas a conviver com ela de maneira sadia é um desafio que precisa ser assimilado, quantas vezes for necessário.
Dizem que viver é abrir mão e deixar fluir. Estranhamente, são justamente as relações pessoais que têm me ensinado esta lição. Cada vez menos tenho procurado quem se distancia, e cada vez mais tenho procurado ter relações mais inteiras.
Relacionar-se com o outro é reverberar. Falo e quero ouvir, a voz, o conteúdo, a opinião, a emoção.
Até porque se tem uma coisa que a vida me ensinou, é que na maioria das vezes as pessoas só estão de passagem mesmo, os caminhos se encontram, e se distanciam. Inclusive me afastei de muita gente também, pelos mais diversos motivos. Faz parte. Não tem nada de errado nisto.
Uma das pessoas que mais amo em toda a minha história, é o meu avô. Já são três anos convivendo com a demência que mudou sua maneira de existir no mundo. Ele é também uma das pessoas mais inteligentes que conheci. Saber que a falta de memória não afeta o intelecto ou a memória afetiva, só reforça minha vontade de ter uma vida consistente, com propósito, e afeto.
Hoje, ainda que muito dedicada a minha carreira e vida profissional, entendo que ela é uma escolha que fiz, mas não é o propósito da minha vida. A busca por este propósito é um processo de autoconhecimento que nem sempre é prazeroso, mas é fundamental para que eu tenha uma existência da qual possa me orgulhar. Afinal, qual será o meu legado para o mundo?
Politicamente tenho seguido a máxima de que se não estou incomodada é porque não estou me importando o suficiente.
Estou mudando minha alimentação e aprendendo a meditar. Mas a conquista mais legal dos últimos meses é que agora eu gosto de ir a academia, não me sinto uma estranha no ninho, e meu corpo agradece por estar em movimento.
Colori os cabelos porque sempre quis fazer isto. Não estendo a cama aos domingos por pura preguiça. Aos poucos volto a mexer com minhas plantas. Pela primeira vez, comprei ingresso com muita antecedência para ir a um festival de música. Continuo adorando planilhas, cerveja gelada e cachaça boa. Tento ser cada vez menos dramática e mais carinhosa e afetuosa. Sigo conversando em gatês com o Dyyrua e usando Mandala Lunar.
Basicamente, ainda que às vezes me assuste com a vida e o amor, sigo tentando entendê-los e aprender com eles. Com a vida porque ela é efêmera, com o amor porque ele é eterno.
“Segue o baile, segue a vibe até o amanhecer”
Divirta-se no caminho.
Denise Flores
3 JUL 2019
Foto: Cláudia Flores e Raquel Pinheiro
Vestido: Minka Camisetas






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