Amores que ficam
- Denise Flores

- 20 de jun. de 2018
- 2 min de leitura
Conheço Seu Francisco e Dona Thereza desde que me entendo por gente. Eles são os avôs maternos do Felipe, Lucas e Lourdinha, meus primos por “parte de pai”. Os pais dos meninos separaram quando eles ainda eram pequenos, mas os aniversários eram comemorados no sítio, e era uma ótima ocasião para todos se encontrarem. Na minha família, mesmo o casamento não dando certo, os laços de amizade sempre foram mantidos e cultivados
Semana passada nos despedimos do Seu Francisco. Dentre as lembranças que tenho, quero compartilhar três com vocês.
Seu Francisco e meu pai dividiam o nome e uma bonita amizade. Na adolescência, cheguei a passar no Cefet, mas desisti de fazer o curso. (O que “traumatizou” o meu pai até a minha entrada para a faculdade). Um dia, meu pai contou ao seu xará sobre o ocorrido, e os dois balançaram a cabeça para mim, meio que em sinal de reprovação, sei lá. Só sei que a expressão do Seu Francisco ficou guardada em mim. Era como se eu também tivesse decepcionado a um avô, ou coisa assim.
A outra lembrança, é de quando ele e Dona Thereza nos fizeram uma visita de pêsames após a morte do meu pai. Na época, recebemos poucas visitas, porque os primeiros dias de uma perda são sempre complicados. Eles nos contaram que tinham mandado o nome do meu pai para Jerusalém, para uma espécie de “lista de orações”, não lembro dos detalhes, mas entendi que vão rezar para o pai pelo resto da vida. Isto acalentou meu coração, me deu um pouco de paz.
A terceira lembrança, é o fato de que ele e Dona Thereza estavam sempre juntos. Se não me engano, foram 68 anos de casamento, mais namoro e noivado. Amor para toda uma vida, e provavelmente, de mais de uma vida.
Ao final da missa de sétimo dia, Dona Thereza comentou com a minha mãe sobre a dor da viuvez. Conheço essa dor pela convivência com minha mãe. Sei que dói demais. Que mesmo inevitável, a separação nunca faz parte dos planos.
Não acredito que relações duradouras sejam exclusivas das gerações passadas. Tenho amigos, da minha idade, que estão juntos há mais de uma década, e conheço outros, ainda mais jovens, que trilham o mesmo caminho.
Acredito que dividir a vida com quem se ama é uma dádiva. O casal amadurece junto. Divide família e amigos. Chora junto. Sofre junto. Aprende a superar as dificuldades. Vive as alegrias. Sonha e realiza. Um cuida do outro. Decoram manias e superam defeitos. Envelhecem.
Este “tipo de amor”, como todos os outros, é uma questão de encontro, dedicação e entrega. A diferença é que, quem ama a mesma pessoa por toda uma vida, já deve amar há muitas outras. Almas que já estão há tanto tempo juntas, que fazem parte uma da outra. Vivem juntas, até o dia em que precisam se separar para depois se encontrarem uma vez mais, e sempre.
"Amor não se conjuga no passado; ou se ama para sempre, ou nunca se amou verdadeiramente." M. Paglia
Foto copiada do Facebook de Dona Thereza






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