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Como ela nos permite

  • Foto do escritor: Denise Flores
    Denise Flores
  • 28 de jun. de 2019
  • 2 min de leitura

Ontem o Facebook me lembrou deste dia. Há quatro anos atrás, meu avô em um samba celebrando o aniversário da Mah.

Lúcido, com raciocínio claro e independente.

No ano seguinte vieram os primeiros sintomas e o diagnóstico de Corpos de Lewy.

A doença afeta a memória e os movimentos dele. Acabaram-se os e-mail's diários, os passeios, os filmes em 3D, as pesquisas em conjunto, as revisões de texto.

Ontem estive com ele. Apesar da memória afetada e de tudo que nos foi tirado, o amor é maior e estabelecemos um novo costume.

Ele na cabeceira da mesa e eu a sua esquerda. Conversamos por horas, sobre o que sua memória nos permite.

Ontem levei a receita de alguns remédios que estão acabando, ele ficou admirado, não "sabia" que toma remédios, mas sei que os cuidadores entregam para ele todas as doses, diariamente, nos horários corretos.

Deixamos de lado o que é recente e causa dificuldade de raciocínio. Falamos sobre política, ele segue sendo um incansável defensor da democracia, lembrou que Figueiredo era um democrata e lamentou terem roubado sua foto da Dilma.

Lembrou com gosto dos anos em que serviu o exército e de quando morou em Miami Beach.

Ligamos para cumprimentar a Mah, e ele falou em inglês com o meu cunhado.

Sei que na próxima visita será assim, vou repetir algumas coisas, comentar sobre o livro que ele estiver lendo e vamos basicamente falar dos mesmos assuntos, e sobre a falta da memória.

E assim será, enquanto a vida nos permitir.

Amar é dividir a vida. Lúcida ou confusa. Na rua ou no aconchego do lar. Do jeito que queremos ou da maneira como ela nos permite.

Denise Flores

28 JUN 2019

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