Para todos os garotos que já amei
- Denise Flores

- 20 de out. de 2018
- 5 min de leitura
Houve uma época em que acreditava que o amor poderia ser resolvido com bilhete de bala icekiss. Não sei exatamente quando foi que comecei a pensar no amor e talvez não possa definir quem foi minha primeira paixão.
No colégio, tive uma paixão platônica pelo Joneiton, ele estudava duas séries acima de mim, achava ele lindo, suspirava por ele, e isto bastava.
Fabian, o primeiro menino que beijei, usava óculos com armação vermelha, por algum motivo cismei que ele parecia o Clark Kent (o que nunca fez sentido), e o primeiro beijo teve este tom de fantasia.
Fabinho foi meu primeiro namorado, namoramos escondido, com direito a muitas cartas de amor (cartas mesmo, daquelas com selo e tudo). Nos meus diários, tem declarações onde afirmei que ele era o amor da minha vida, queria casar, formar família. Hoje sei que naquela época não tinha ideia do que era amor. Ele se casou com uma grande amiga, depois eles separaram. Cris é minha amiga e comadre, dele, nunca mais ouvi falar.
Na adolescência também teve a paixão platônica pelo Toledo, esta era tipo “complexo de Cinderela”, ele sempre foi um cara legal, adora minha família, adoro a dele, imagina se vira romance? Lindo, né! Por isto, em algum momento me declarei, éramos amigos, e a decisão de continuarmos amigos foi a mais acertada. Depois disto, fui madrinha do primeiro casamento dele. Hoje, ele está no segundo casamento e tem uma família linda.
Confesso que minha memória já não consegue organizar estas histórias de maneira linear. Tudo bem, o que importa é o conteúdo.
O primeiro namorado que apresentei em casa foi o Teco. Lindo e educado, minha família adorava esse namoro. Eu adorava ele. Na época não tive maturidade suficiente para ver o quão legal ele era (imagino que ainda seja). Era do tipo para cantar Kid Abelha “depois de você, os outros são os outros e só... “ Um dia ele terminou comigo, depois reencontramos, ele estava namorando a Tatiana, com quem casou e formou uma família linda.
Tive romances rápidos com o Bacuté e o Eder. Em algum momento, entre estes romances, me apaixonei pelo Richard. Se tem alguém que cismei que era o amor da minha vida, foi ele. Fui muito apaixonada, abri mão de outras histórias na esperança de conquistá-lo. Adivinhem! Sim, ele é casado com o amor da vida dele e tem uma família linda. Além deste motivo óbvio, daqui a pouco vocês vão entender outros motivos pelos quais ele não pode ser o amor da minha vida.
Cheguei a namorar com o Thiago, quase por acidente. Ficamos juntos, ele sofreu um acidente, comecei a visitar ele no hospital, viramos namorados. Curti o namoro, foi legal, era gostoso. Apesar da mãe dele implicar comigo. Namoramos por quase dois meses, depois concluímos que não era o que queríamos. Não tenho certeza, mas acho que ele também está casado.
E teve o Estevão. Eu verdadeiramente me apaixonei, mas mais do que isto, queria provar para mim mesma que eu era capaz de namorar, manter um relacionamento. Resultado, apostei em um picareta, que a minha família não aprovava. O término e todas as descobertas após o término foram tão ruins que fiquei um ano sem beijar na boca e um bom tempo fechada, passei a ter medo de confiar.
Juntem este término traumático ao suicídio do meu pai e chegamos ao momento da minha vida em que passei a ter muita dificuldade em confiar e passei a acreditar que me abandonar era uma coisa fácil, o que criou um hiato na minha vida amorosa.
Muita terapia, constelação, leitura da aura, ho'oponopono depois… seguimos com a nossa, quero dizer, com a minha história.
Quando achava que tinha me livrado das paixões platônicas, em especial pelos amigos, tiveram mais três (sim, quase patológico isto).
A primeira, pelo Fiel, trabalhávamos juntos, somos amigos, ele namorava, passei meses ensaiando me declarar. Ele ficou solteiro e escrevi um e-mail do tipo abrindo o coração o mais bregamente possível. Resultado? Ele achou melhor seguirmos como amigos. Outra decisão acertada. Hoje ele é casado com a Cláudia, os dois são um dos casais mais incríveis que conheço. Não fez o menor sentido ter sido apaixonada por ele, porque hoje ele é um irmãozinho para mim. Mas acontece, né?
A segunda, pelo Lucas, mas só tive certeza que o que sentia era paixão, depois que ele já tinha morrido. Esta paixão virou um amor lindo e sei que nossa amizade é eterna, ele me inspira a ser melhor. Nossa amizade, segue enfeitando minha alma.
A terceira, pelo Leo, mas esta nem sei se chegou a virar paixão, acho que foi mais um encantamento. Chegamos inclusive a ter esta conversa. Desta vez, coloquei a questão e conclui ao mesmo tempo, foi parecido com “acho, mas não tenho certeza, talvez em algum momento, fui, ou talvez possa a vir, a ser apaixonada por você, mas isto não faz sentido, vamos ser amigos mesmo?”.
Quem me conhece deve ter ficado esperando eu citar o Hugo. Acho que sempre vou ser um pouco apaixonada por ele, e ele é um dos amores da minha vida. Mas não do tipo para qual escrevo este texto. Em 2016 o Hugo foi um personagem fundamental na cura da minha crise de depressão, ele me ajudou a me abrir novamente para o mundo, e confiar nele é uma parte importante do processo de cura do meu coração. Ele é um profissional incrível, é meu parceiro, amigo e divã. Mas é como aquele ditado, “amizade é o amor que deu certo”, somos e sempre seremos grandes amigos, sem nenhuma confusão de sentimentos.
Além de todas estas histórias tiveram alguns outros romances, flertes e beijos. Histórias ruins. Histórias de uma noite. Histórias que guardo com o maior carinho. Tem história que se tivesse tempo para acontecer, seria incrível, porque a “amostra” deixou gosto de quero mais. Beijos com gosto de caju, acerola e carambola. Distorcendo a canção de Cazuza, amores quase inventados.
Apesar de tantas histórias, confesso para os devidos fins, que derreto de chorar com filmes onde a protagonista sofre por nunca ter sido notada e esta em busca do seu grande amor. Isto é completamente justificável, são muitas paixões platônicas, muitas histórias, e nenhum grande amor.
Sobre os “ex’s” que aparecem nos parágrafos acima, agradeço pelas histórias vividas, pelas experiências, pelo tempo que dividimos. Mas todos, sem exceção, os legais e os não legais, se tornaram incompatíveis com a mulher que me tornei.
De fato eu sou do tipo fofa, incrível, confiável, uma ótima ouvinte e conselheira. Sou do tipo que se leva no coração. Blá, blá, blá, blá… Ser meu amigo deve ser MUITO legal.
Mas também sou uma mulher independente, feminista, de personalidade forte. Sou produtora audiovisual e me dedico a minha carreira. Escrevo meu blog. As vezes, sou contraditória. Abri mão das religiões tradicionais, o que aumentou minha fé. Sou apaixonada pelas estrelas. Registro minhas emoções em uma mandala lunar, e as vezes, durante a TPM, pareço um vulcão em erupção. Defendo a legalização da maconha, do aborto e a liberdade religiosa. Luto pela democracia e os direitos humanos acima de todos. Justiça social e a diminuição da desigualdade me interessam.
Sou leal, jogo junto, mas quando precisa, bato de frente. Meus pais me ensinaram a tratar a todos como iguais, recentemente descobri que algumas pessoas me acham nutella e puxa saco. O que só me mostrou que me entender não é para todos, e que desenvolvi a capacidade de manter minhas convicções e seguir sorrindo mesmo quando falam mal de mim.
Sou resiliente.
Depois que paro de chorar, procuro me lembrar de todas essas coisas. Evoluir leva tempo, mas vale a pena. Quem quiser me amar, vai precisar entender que sou esse emaranhado de ideias e emoções. Esta mulher livre, de braços abertos para a vida.
No fundo, o que eu quero é a “sorte de um amor tranquilo”.
No mais, sigo me divertindo pelo caminho.
Denise Flores
20 OUT 2018
OBS.: o título deste texto é uma homenagem ao filme da Netflix “Para todos os garotos que já amei”.
Assisti, chorei, resmunguei com amigos, escrevi.
Foto Gabi Monteiro






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