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Deus, amor e o orgulho LGBTQ+

  • Foto do escritor: Denise Flores
    Denise Flores
  • 28 de jun. de 2020
  • 3 min de leitura

A referência que tenho, da primeira pessoa gay da qual “tive notícia” na minha vida, foi um rapaz do colégio. Não o conhecia, mas sei que era loiro e mais velho do que eu. Lembro-me dele porque teve um festival de dança no colégio e de uma forma geral os alunos estavam excitadíssimos porque o namorado dele iria ao festival.


Lembro que isto me causou um certo estranhamento e que o garoto loiro dançou lindamente. Hoje, se eu soubesse quem é ele, pediria desculpas pelo constrangimento de um colégio inteiro mais preocupado em saber quem ele namorava do que em admirar sua dança.


Depois do colégio, gay’s , bi’s, tran’s, foram chegando na minha vida de uma maneira tão natural, que nem consigo entender não ser assim. Meu critério para relacionamentos são afinidade e caráter, nem sempre eu acerto, mas acho que são os únicos pré-requisitos realmente essenciais para se estabelecer amizade com alguém.


Na adolescência era natural pontuar que nunca tinha ido a uma boate LGBTQ+. Hoje, como diz uma amiga minha, vivo “procurando laranja em pé de maçã”, porque se meus amigos estão indo, seja festa ou bloco, e estou com vontade, vou e me sinto bem, porque o que importa é estar com as pessoas que gosto.


Dentre os meus amigos mais próximos, muitos são gay’s, inclusive, orgulhosamente, sou madrinha de casamento de duas amigas super queridas, um casal que admiro muito.


Conhecer gay’s é muito diferente de realmente ter amigos próximos e conviver diariamente com eles, porque apenas quando se é próximo é possível chegar perto de entender o medo que eles sentem, as dores que vivem. Aprendo com o diálogo, às vezes erro e demoro para entender algumas coisas, mas sigo tentando.


Sinceramente não sei quando passei a me posicionar publicamente a favor da liberdade de escolha, da liberdade do amor, dos direitos de todos LGBTQ+.


Ano passado, quando começou a campanha para o segundo turno da eleições presidenciais, foi doloroso ver tantas pessoas queridas temendo por suas vidas caso o fascismo vencesse as eleições. E o fascismo venceu.


O Brasil, que já estava no topo dos países que mais matam LGBTQ+ no mundo, com um presidente machista, fascista, homofóbico e genocida, segue ameaçando e matando pessoas por elas amarem ou existirem de uma “maneira diferente do que manda a convenção social”.


Historicamente, desde que o mundo é mundo, existem gay’s. O que muda, são que as religiões começaram a pregar que isto é errado, é pecado, deve ser abominado.


Pois bem, Deus é uma aposta. Uma aposta porque ninguém consegue comprovar cientificamente a sua existência. As provas da existência de Deus são todas subjetivas, o milagre da vida, a bíblia, a perfeição do Universo, etc


Então podemos dizer que as pessoas passam suas vidas apostando que Deus existe, para em suas mortes, ganharem ou perderem tal aposta. É este o exercício da fé.


O curioso disso é que de uma forma geral existe um consenso entre muitas religiões sobre a figura de Deus. Bondoso, perfeito, amoroso e justo. Ele pede para os homens amarem uns aos outros.


Homofóbicos entendem que é para amar a todos, menos os gay’s e começam a propagar o ódio. Tentam convencer a sociedade de que os gay’s não seriam amados por Deus, por cumprirem o que Deus prega que é o exercício do amor.


O ódio vira agressões, vira violência. E mata, todos os dias. Muitos morrem pelas mãos de homofóbicos, muitos morrem por suas próprias mãos, o suicídio dentro da comunidade LGBTQ+ é uma dura realidade.


Na minha vida, as duas maiores feridas emocionais que tenho, foram causadas por homens heterosexuais, um ex-namorado e um ex-amigo, por outro lado, já fui moralmente assediada tanto por homens, quanto por mulheres. Estas experiências reforçam a minha determinação de acreditar no humano, independente da sua orientação sexual.


Já o meu apreço pela vida dos meus amigos gay’s e por tantos outros, me ensina que não basta dizer “somos todos humanos” é preciso entender que muitos precisam de suporte e força, porque suas lutas são muito maiores que as minhas, e são pelo direito de existir que lhes é sistematicamente negado.


Minha aposta em Deus segue sendo em uma energia, um ser, tão generoso e amoroso que se expande e cria sempre a partir do amor. Do amor, sem distinção. Incapaz de julgar ou condenar.


Talvez a maior utopia da minha alma seja acreditar em um mundo pleno de amor, onde enfim, entenderemos que somos todos iguais e não devemos discriminar uma pessoa pela cor da sua pele, seu gênero, sua opção sexual, classe social, profissão ou religião. Isto pode nunca se concretizar, mas minha obrigação é seguir lutando, como posso, pelo futuro com o qual ouso sonhar. Um futuro onde, como diz a canção, "ninguém vai poder, querer nos dizer como amar."


Denise Flores

28 JUN 2020



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