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As que vieram antes de mim

  • Foto do escritor: Denise Flores
    Denise Flores
  • 9 de mar. de 2020
  • 3 min de leitura

Nos últimos anos venho aprendendo sobre a importância de honrar e agradecer aos meus ancestrais e antepassados. Eles abriram muitos dos caminhos que hoje percorro e são responsáveis diretos por muitos dos privilégios que posso desfrutar.


Neste dia das mulheres quero homenagear as minhas três ancestrais diretas das quais descendo, honro e agradeço.


Da esquerda para a direita


Vó Lourdes. Minha avó paterna. Não chegamos a nos conhecer, e toda a memória que tenho dela é construída pelas histórias contadas pelos meus pais e tios. Sei que ela foi uma excelente mãe e sogra, e tinha carinho enorme pela minha mãe. Ela não teve muito estudo, foi servente de grupo, meu avô morreu com trinta e cinco anos e ela sempre trabalhou para sustentar os cinco filhos. Um câncer no cérebro a levou cedo demais e não chegou a conhecer nenhum dos netos. Deixou um legado de força e coragem.


Vó Iria. Minha avó materna. Minha “alminha gêmea”. Vó Iria era muito genial, ela tinha um Atari com fitas incríveis, mimava os netos quando dormíamos na casa dela e fazia todos os reparos necessários na casa. Também não estudou muito, mas trabalhou por anos na UFMG. Seu casamento não foi fácil, ela e meu avô nunca chegaram a separar no papel, mas fisicamente se separam antes do casamento dos meus pais. Meu avô é alcoólatra, está sóbrio há muitos anos, mas na época do casamento, com os filhos pequenos, vó Iria passou por situações que não deveria ter passado. Apesar das dificuldades, seguiu firme, educou os quatro filhos e viveu para conhecer netos e bisnetos. Sobreviveu a infartos, mas há dez anos morreu de dengue hemorrágica. Apesar da vida ter sido dura com ela nunca perdeu a ternura e a fé.


Cláudia. Dona Cláudia. Claudinha. Minha mãe. Moramos juntas há trinta e sete anos, então é uma vida de convivência, admiração e aprendizado. Minha mãe parou de trabalhar fora quando se casou e passou a ser esposa e mãe em tempo integral. Do tipo que levava e buscava na escola, cozinhava, lavava, passava, fazia as coisas pro meu pai e nossas roupas para as apresentações na escola. Ficou viúva há dezesseis anos e desde então encara e supera as consequências e dificuldades depois da morte do meu pai. Hoje ela é avó do Jowjow e é a melhor avó que consegue ser apesar da distância física do neto. Ela tem uma vida independente, faz hidroginástica, joga buraco, sai com os amigos. Às vezes sai com os meus amigos também porque ela é uma companhia muito legal. Como é natural, de uma relação que amadurece, hoje falamos de sexo, drogas e sobre qualquer assunto, de igual para igual, porque além de mãe e filha, somos duas mulheres adultas. Até com o meu gato ela aprendeu a conviver bem (na real ela gosta mais do Dyyrua do que admite). Ela não gosta de política, mas não votou no Bolsonaro, nem apoia o atual governo e isso diz muito sobre ela e sei que é motivo de “inveja” de muitos amigos que sofrem com o posicionamento dos pais. Ela diz que sou muito “politicamente correta”, nem sempre concorda com minhas opiniões, mas está sempre disposta a ouvir, se esforça para entender, e o mais importante, respeita e apoia minhas escolhas e lutas.


Três mulheres cujas histórias me mostram que no meu DNA corre a liberdade de ser o que eu quiser. Que tenho força para transformar a minha história e recomeçar quantas vezes for preciso. Ainda que nenhuma das três tenha levantado a bandeira do feminismo, as três certamente sempre fizeram escolhas que tornaram a minha vida muito mais fácil.


Muito amor e admiração por estas três mulheres.

Em especial, pela minha mãe. Muitas vidas serão necessárias para que eu possa agradecer e honrar por tudo que recebo de dela.


Denise Flores

8 MAR 2020



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