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Memória

  • Foto do escritor: Denise Flores
    Denise Flores
  • 17 de jul. de 2017
  • 2 min de leitura

No último final de semana meu avô estava muito gripado, então passei a maior parte do tempo na casa dele.

Sou apaixonada pelo meu avô desde que me entendo por gente, quando era criança ele me dava aulas particulares, foi ele quem corrigiu meus trabalhos de faculdade. Sempre com observações para que eu aprendesse as regras de português.

Indiscutivelmente foi quem mais me incentivou a desenvolver o dom da escrita.

Falamos ao telefone com certa frequência, e quando ele aprendeu a escrever e-mail’s, passamos a trocar mensagens quase diariamente.

O tempo passou, chegou a idade, e a memória teima em ir embora. Meu avô já não escreve e-mail’s. Os últimos, invariavelmente, falam sobre a perda da memória e a morte “com a monumental perda de memória que venho sofrendo, vejo também que o fim (Praza a Deus) se aproxima.”

Eu e meu avô sempre conversamos sobre a morte, dividimos a mesma opinião, é justo que todos possam partir com dignidade. Aprendemos a analisar o assunto sob diversos pontos de vista.

Tenho saudades imensas dos seus e-mail’s e das nossas longas conversas sobre a finitude e sobre a vida. Mas sigo conversando o que o tempo nos permite falar.

- Sabe o que eu quero?

- Morrer? (perguntei no automático já que ele estava reclamando que velhice não presta)

- Não, não agora, tenho coisas para fazer.

- Que bom, vô. E o que você quer?

- O que eu quero? Não sei. Disse que queria alguma coisa?

- Sim, falou.

- Já esqueci.

- Depois você lembra.

- Não sei se lembro. Sabe, Deni, velhice é uma droga. Minha memória não presta para mais nada.

- Vô, tenho 35 e vivo esquecendo das coisas. Não se preocupe, a memória foi feita para esquecer.

- "pense em mim, chore por mim, liga pra mim..." (e voltou a cantar)

 
 
 

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