200 dias e ainda contando
- Denise Flores

- 6 de out. de 2020
- 2 min de leitura
Já são 200 dias de recolhimento social, e ainda contando. Nas últimas semanas, enfim, participei de dois pequenos encontros. No aniversário da minha mãe, minha irmã, meu cunhado e minha tia vieram à minha casa. E no último sábado, recebi a visita de três amigos. Tudo contado, pensado, organizado.
Fora isto, só saio de casa para compromissos relacionados a saúde, compras de alimentação e ir a casa do meu avô.
O covid segue ceifando vidas diariamente. Apesar da frustração coletiva por um ano que está sendo, na maior parte do tempo, vivido diante das telas, ficar em casa, todo o tempo possível, ainda é a melhor medida de segurança.
No começo da pandemia, quando não tinha a menor noção de que ficaríamos tanto tempo em casa, o recolhimento foi quase divertido, o Covid estava “chegando ao Brasil”, então as lives, os jogos on line, montar quebra-cabeça, desenhar, tudo parecia distrair e dar forças para segurarmos a disseminação do vírus até os hospitais de campanha ficarem prontos, até o país se preparar.
Depois. Números altos. Muita tristeza, muita dor. E haja recursos para permanecer bem.
A falta de trabalho remunerado me fez rever toda a minha carreira e pensar nos próximos passos.
Trabalho não remunerado nunca falta, porque projetos culturais demandam, filmes são eternos e por aí vai.
Das decisões mais corajosas e acertadas que tomei, parar de tomar alopáticos é uma das que mais me orgulho. Obviamente que não acordei e decidi que não tomaria mais estabilizador de humor, tudo tem acompanhamento de profissionais de saúde e sigo com florais e tudo o que é natural.
Ano passado, no mês de outubro, estava em crise de depressão, uma crise que se agravou, que doeu. Por causa dela voltei a fazer terapia semanalmente em um processo que tem sido muitas vezes doloroso, mas extremamente importante e bonito.
Entre o ano passado e agora, passei por alguns rompimentos, saí de uma relação que se mostrou tóxica e emocionalmente abusiva. Me afastei de algumas pessoas. Vi pessoas se afastarem. Sofri. Ainda dói.
Tudo isso, junto a este processo de recolhimento social que deixa tudo muito mais intenso e delicado, me fez mergulhar ainda mais em mim. Em um processo de auto conhecimento, auto amor e cura.
Inclusive, sobre esses processos, fiz um documentário autobiográfico pelo qual recebi um prêmio, e isso foi um carinho, um alento, me deu fôlego.
Sigo escrevendo, e depois de muito tempo, estudando sobre escrita. Desenvolvendo projetos pessoais. Estou pela primeira vez participando de um clube do livro e passei a integrar um grupo de apoio para implementação de uma comunidade compassiva. Tenho feito ritos tibetanos, meditado, feito auto massagem, terapia com yonni eggs. E claro, buscando trabalhos remunerados.
Sigo com saudades de encontrar os amigos pessoalmente, de fazer reuniões em cafés, de passar horas em uma mesa de bar, de dançar, de carnaval, de aglomerar. De muitos abraços. Abraços rápidos, urgentes, carinhosos, demorados, apertados, acolhedores, de todo tipo.
Mas sigo também, respirando fundo, e disciplinadamente, praticando o recolhimento social, há 200 dias e ainda contando. Rezando pela vacinação em massa, e pela conscientização das pessoas.
Vou chegar ao final disso tudo muito diferente de quem eu era no início, e de alguma maneira, apesar de tudo, acredito que chegarei melhor, como ser humano, como cidadã, e isto já é muita coisa.
Denise Flores
6 de outubro de 2020






Comentários